quarta-feira, 14 de outubro de 2009

CRONOGRAMA PARTE FINAL DO CURSO

14/10 - Romantismo negro

28/10 - Castro Alves e Victor Hugo

04/11 - Poema em prosa

09/11 - Simbolismo na Bahia

11/11 - Poesia de autoria feminina no século XIX

18/11 - Poesia em periódicos

23/11 - Poesia pré-modernista

25/11 - Lírica modernista

30/11 - Linhagem coloquial

02/12 - Carlos Drummond de Andrade

07/12 - João Cabral de Mello Neto

ENTREGA DOS TRABALHOS ESCRITOS: 07 DE DEZEMBRO DE 2009



terça-feira, 1 de setembro de 2009

AULA DE QUARTA-FEIRA (DIA 02 DE SETEMBRO, 2009)

Prezados, conforme combinado em sala de aula, não teremos aula nesta quarta-feira (dia 02 de setembro).

Lembro que, neste mesmo dia, haverá o evento na Casa de Rui Barbosa sobre a transição do classicismo ao romantismo. Maiores informações abaixo:




"Como narrar a transição do classicismo ao romantismo?" é o tema da palestra que a Fundação Casa de Rui Barbosa (Rua São Clemente, 134 – Botafogo. Rio de Janeiro/RJ. Tel.: 21 3289-4600) promove no próximo dia 2 de setembro, às 10h, com entrada franca. O tema será conduzido pelo pesquisador Hans Ulrich Gumbrecht, professor do Departamento de Literatura Comparada da Universidade de Stanford (EUA) e um dos mais importantes críticos e teóricos da literatura em atividade. A conferência será proferida em português.




Link para o curriculum do Prof. Gumbrecht na Universidade de Stanford:
http://www.stanford.edu/dept/HPS/gumbrecht.html

terça-feira, 19 de maio de 2009

MATERIAL PARA AULA DO DIA 22 DE MAIO

Durante a próxima aula (22/05), trabalharemos com poemas de Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes e João Cabral de Melo Neto. Os links para os poemas se encontram nas postagens abaixo desta.

JOÃO CABRAL DE MELO NETO





4. A educação pela pedra:



CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


MURILO MENDES






4. REFLEXÃO NÚMERO 1:



sábado, 16 de maio de 2009

MANUEL BANDEIRA





POÉTICA


Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres etc.


Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.





DESENCANTO



Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.


E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.


- Eu faço versos como quem morre.





POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL


João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia
num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.





PIERROT MÍSTICO



Torna o meu leito, Colombina!
Não procures em outros braços
Os requintes em que se afina
A volúpia dos meus abraços.


Os atletas poderão dar-te
O amor próximo das sevícias...
Só eu possuo a ingênua arte
Das indefiníveis carícias...


Meus magros dedos dissolutos
Conhecem todos os afagos
Para os teus olhos sempre enxutos
Mudar em dois brumosos lagos...


Quando em êxtase os olhos viro,
Ah se pudesses, fútil presa,
Sentir na dor do meu suspiro
A minha infinita tristeza!...


Insensato aquele que busca
O amor na fúria dionisíaca!
Por mim desamo a posse brusca:
A volúpia é cisma elegíaca...


A volúpia é cisma que esconde
Abismos de melancolia...
Flor de tristes pântanos onde
Mais que a morte a vida é sombria...


Minh'alma lírica de amante
Despedaçada de soluços,
Minh'alma ingênua, extravagante,
Aspira a desoras de bruços.


Não às alegrias impuras,
Mas a aquelas rosas simbólicas
De vossas ardentes ternuras,
Grandes místicas melancólicas!...

quinta-feira, 7 de maio de 2009

DOIS TEXTOS DE AFIRMAÇÃO DO MODERNISMO




MARIO DE ANDRADE




Abaixo link para página que contém mini-antologia de poemas de Mario de Andrade. Trabalharemos com os seguintes poemas:




a) "Eu sou trezentos..."




b) "Descobrimento"




c) "Lundu do escritor difícil"




d) "Ode ao burguês"



AUGUSTO DOS ANJOS


1. Link para o poema "Budismo moderno":





2. Link para o poema "Versos íntimos":






3. Link para versão musicada de "Budismo Moderno", por Arnaldo Antunes":

segunda-feira, 4 de maio de 2009

SIMBOLISMO


1. Link para o poema "Antífona", de Cruz e Sousa:




2. Link para o poema "Braços", de Cruz e Sousa:




3. Link para o poema "Flor do mar", de Cruz e Sousa:




4. Link para o poema "Monja negra", de Cruz e Sousa:



PARNASIANISMO






1. Link para o poema "Profissão de fé", de Olavo Bilac:









2. Link para o poema "As pombas", de Raimundo Correia:









3. Link para o poema "Vaso grego", de Alberto de Oliveira:



sábado, 2 de maio de 2009

DOIS POEMAS DE CASTRO ALVES


Link para download de dois poemas ("Poeta" e "Remorsos"), de Castro Alves:


quinta-feira, 23 de abril de 2009

3 POEMAS DE ÁLVARES DE AZEVEDO

Abaixo vocês encontrarão os links para 3 poemas de Álvares de Azevedo: "Meu sonho", "Luar de verão" e "Namoro a cavalo". Estes três poemas serão lidos, analisados e discutidos em sala na próxima aula (27/04).










Link para os contos macabros de Noite na taverna:



Para aqueles que porventura queiram se aprofundar nas questões relativas ao Romantismo no Brasil, segue abaixo link para download do livro O romantismo no Brasil, de Antonio Candido, publicado em 2002 pela Editora da Universidade de São Paulo. Trata-se de texto de referência, obrigatório para quem se interessa pela literatura brasileira no século XIX.

O romantismo no Brasil: http://www.sendspace.com/file/8442wp

sábado, 29 de novembro de 2008


JUNQUEIRA FREIRE (1832-1855)


Poeta baiano, nascido em Salvador, foi acometido desde a infância por problemas cardíacos, fato que o levou a concluir os estudos primários de forma irregular. Por pressão familiar, ingressou na "Ordem dos Beneditinos", em 1851. Porém, na clausura do Mosteiro de São Bento de Salvador, o jovem poeta sentia faltar a vocação monástica, o que o converteu num homem em quem o conflito matéria x espírito era notável. Dois anos após o ingresso no mosteiro, pediu a secularização que seria outorgada apenas no ano seguinte, permitindo libertar-se da rígida disciplina monástica, embora ainda permanecesse sacerdote por força dos votos perpétuos. É nesta fase final que prepara as Inspirações do Claustro, obra impressa na Bahia pouco tempo antes de sua morte, ocorrida em 24 de junho de 1855, aos 23 anos, motivada pelas enfermidades cardíacas que o atormentaram por toda a vida.



Os conflitos e incertezas metafísicas que faíscam nos poemas deixados por este jovem poeta não passaram desapercebidos por Machado de Assis, que sobre ele declarou: "Contrário a si mesmo, cantando por inspirações opostas, aparece-nos o homem através do poeta romântico".


Figura emblemática da Segunda Geração do Romantismo no Brasil, o Poeta-Monge canta o desespero na solidão. Isolado em seu claustro, longe das urgências mundanas, o Poeta-Monge sente reverberar em si todo o conflito moral entre matéria e espírito - tema característico desta fase do Romantismo.
Como escreve o Poeta-Monge no "Prólogo" às Inspirações do claustro, "cantei o monge, porque ele é escravo, não da cruz, mas do arbítrio de outro homem. Cantei o monge, porque não há ninguém que se ocupe de cantá-lo. E por isso que cantei o monge, cantei também a morte. É ela o epílogo mais belo de sua vida: e seu único triunfo."




LINK PARA INSPIRAÇÕES DO CLAUSTRO:

quinta-feira, 27 de novembro de 2008



ÁLVARES DE AZEVEDO (1831-1852)


LINKS:

AZEVEDO, Álvares. Lira dos Vinte Anos:

http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/port/lira_dos_vinte_anos.htm


CARONE, Modesto. "Álvares de Azevedo: um poeta urbano":

http://almanaque.folha.uol.com.br/carone10.htm




INTRODUÇÃO À LIRA DOS VINTE ANOS


Cantando a vida, como o cisne a morte.
BOCAGE

Dieu, amour et poésie sont les trois mots que je voudrais seuls graver sur ma pierre, si je mérite une pierre.
LAMARTINE




São os primeiros cantos de um pobre poeta. Desculpai-os. As primeiras vozes do sabiá não têm a doçura dos seus cânticos de amor.

É uma lira, mas sem cordas; uma primavera, mas sem flores; uma coroa de folhas, mas sem viço.

Cantos espontâneos do coração, vibrações doridas da lira interna que agitava um sonho, notas que o vento levou — como isso dou a lume essas harmonias.

São as páginas despedaçadas de um livro não lido...

E agora que despi a minha musa saudosa dos véus do mistério do meu amor e da minha solidão, agora que ela vai seminua e tímida, por entre vós, derramar em vossas almas os últimos perfumes de seu coração, ó meus amigos, recebei-a no peito e amai-a como o consolo, que foi, de uma alma esperançosa, que depunha fé na poesia e no amor — esses dois raios luminosos do coração de Deus.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

PRIMEIRA GERAÇÃO ROMÂNTICA


GONÇALVES DE MAGALHÃES (1811-1882)


Poeta, político e médico fluminense, participou de missões diplomáticas na Europa e na América do Sul. Morreu em Roma, onde exercia cargos diplomáticos junto ao Vaticano. Ingressou em 1828 no curso de Medicina, em que se diplomou 1832. No mesmo ano estreou com Poesias e, no ano seguinte, partiu para a Europa com a intenção de se aperfeiçoar em Medicina. Enquanto conclui seus estudos entra em contato com as idéias românticas, fator essencial para a introdução do movimento no Brasil.

Sua importância está no fato de ter sido o introdutor do Romantismo no Brasil. Em contato com o romantismo francês, publicou em 1836 seu livro Suspiros poéticos e saudades, cujo prefácio valeu como manifesto para o Romantismo brasileiro, sendo por isso considerado o iniciador dessa escola literária no país. Suspiros poéticos e saudades é dividido em duas partes: "Suspiros poéticos" e “Saudades”. A primeira parte é constituída de 43 poemas sobre os mais diversos temas, tais como a própria poesia, o cristianismo, a mocidade, a fantasia, ou ainda diversas impressões sobre lugares, fatos e figuras da história. A segunda parte é dedicada, como o próprio título declara, à saudade, evocando em 12 poemas a pátria, a família, os amigos, enfim, pessoas, fatos e lugares caros ao poeta.

Em parceria com Araújo Porto-Alegre e Torres Homem, lançou a revista "Niterói". Voltou-se também para a produção teatral, que então era renovada com a produção de Martins Pena e os desempenhos de João Caetano, escrevendo duas tragédias: "Antônio José" ou "O poeta e a Inquisição" (1838) e "Olgiato" (1839). Apesar de introdutor do Romantismo entre nós, em vários momentos é possível encontrar vestígios de sua formação neoclássica. Restrições também podem ser feitas no tocante às representações do índio em suas obras. Seu poema épico "Confederação dos Tamoios" foi alvo de intensa polêmica, na qual antagonizaram José de Alencar, de um lado, e Monte Alverne e o Imperador pedro II, do outro.


SUSPIROS POÉTICOS E SAUDADES (1836)
PREFÁCIO

Pede o uso que se dê um prólogo ao Livro, como um pórtico ao edifício; e como este deve indicar por sua construção a que Divindade se consagra o templo, assim deve aquele designar o caráter da obra. Santo uso de que nos aproveitamos, para desvanecer alguns preconceitos, que talvez contra este Livro se elevem em alguns espíritos apoucados.

É um Livro de Poesias escritas segundo as impressões dos lugares; ora assentado entre as ruínas da antiga Roma, meditando sobre a sorte dos impérios; ora no cimo dos Alpes, a imaginação vagando no infinito como um átomo no espaço, ora na gótica catedral, admirando a grandeza de Deus, e os prodígios do Cristianismo; ora entre os ciprestes que espalham sua sombra sobre túmulos; ora enfim refletindo sobre a sorte da Pátria, sobre as paixões dos homens, sobre o nada da vida. São poesias de um peregrino, variadas como as cenas da Natureza, diversas como as fases da vida, mas que se harmonizam pela unidade do pensamento, e se ligam como os anéis de uma cadeia; poesias d'alma, e do coração, e que só pela alma e o coração devem ser julgadas.
Quem ao menos uma vez separou-se de seus pais, chorou sobre a campa de um amigo, e armado com o bastão de peregrino, errou de cidade em cidade, de ruína em ruína, como repudiado pelos seus; quem no silêncio da noite, cansado de fadiga, elevou até Deus uma alma piedosa, e verteu lágrimas amargas pela injustiça, e misérias dos homens; quem meditou sobre a instabilidade das coisas da vida, e sobre a ordem providencial que reina na história da Humanidade, como nossa alma em todas as nossas ações; esse achará um eco de sua alma nestas folhas que lançamos hoje a seus pés, e um suspiro que se harmonize com o seu suspiro. Para bem se avaliar esta obra, três coisas releva notar: o fim, o gênero, e a forma.

O fim deste Livro, ao menos aquele a que nos propusemos, que ignoramos se o atingimos, é o de elevar a Poesia à sublime fonte donde ela emana, como o eflúvio d'água, que da rocha se precipita, e ao seu cume remonta, ou como a reflexão da luz ao corpo luminoso; vingar ao mesmo tempo a Poesia das profanações do vulgo, indicando apenas no Brasil uma nova estrada aos futuros engenhos.

A Poesia, este aroma d'alma, deve de contínuo subir ao Senhor; som acorde da inteligência deve santificar as virtudes, e amaldiçoar os vícios. O poeta, empunhando a lira da Razão, cumpre-lhe vibrar as cordas eternas do Santo, do Justo, e do Belo.

Ora, tal não tem sido o fim da maior parte dos nossos poetas; e o mesmo Caldas, o primeiro dos nossos líricos, tão cheio de saber, e que pudera ter sido o reformador da nossa Poesia, nos seus primores d'arte, nem sempre se apoderou desta idéia. Compõe-se uma grande parte de suas obras de traduções; e quando ele é original causa mesmo dó que cantasse o homem selvagem de preferência ao homem civilizado, como se aquele a este superasse, como se a civilização não fosse obra de Deus, a que era o homem chamado pela força da inteligência com que a Providência dos mais seres o distinguira!

Outros apenas curaram de falar aos sentidos; outros em quebrar todas as leis da decência!

Seja qual for o lugar em que se ache o poeta, ou apunhalado pelas dores, ou ao lado de sua bela, embalado pelos prazeres; no cárcere, como no palácio; na paz, como sobre o campo da batalha, se ele é verdadeiro poeta, jamais deve esquecer-se de sua missão, e acha sempre o segredo de encantar os sentidos, vibrar as cordas do coração, e elevar o pensamento nas asas da harmonia até às idéias arquétipas.

O poeta sem religião, e sem moral, é como o veneno derramado na fonte, onde morrem quantos aí procuram aplacar a sede.

Ora, nossa religião, nossa moral é aquela que nos ensinou o Filho de Deus, aquela que civilizou o mundo moderno, aquela que ilumina a Europa, e a América e só este bálsamo sagrado devem verter os cânticos dos poetas brasileiros.

Uma vez determinado e conhecido o fim, o gênero se apresenta naturalmente. Até aqui, como só se procurava fazer uma obra segundo a Arte, imitar era o meio indicado: fingida era a inspiração, e artificial o entusiasmo. Desprezavam os poetas a consideração se a Mitologia podia, ou não, influir sobre nós. Contanto que dissessem que as Musas do Hélicon os inspiravam, que Febo guiava seu carro puxado pela quadriga, que a Aurora abria as portas do Oriente com seus dedos de rosas, e outras tais e quejandas imagens tão usadas, cuidavam que tudo tinham feito, e que com Homero emparelhavam; como se pudesse parecer belo quem achasse algum velho manto grego, e com ele se cobrisse. Antigos e safados ornamentos, de que todos se servem, a ninguém honram!

Quanto à forma, isto é, a construção, por assim dizer, material das estrofes, e de cada cântico em particular, nenhuma ordem seguimos; exprimindo as idéias como elas se apresentaram, para não destruir o acento da inspiração; além de que, a igualdade dos versos, a regularidade das rimas, e a simetria das estâncias produz uma tal monotonia, e dá certa feição de concertado artificio que jamais podem agradar. Ora, não se compõe uma orquestra só com sons doces e flautados; cada paixão requer sua linguagem própria, seus sons imitativos, e períodos explicativos.

Quando em outro tempo publicamos um volume das Poesias da nossa infância, não tínhamos ainda assaz refletido sobre estes pontos, e em quase todas estas faltas incorremos; hoje, porém, cuidamos ter seguido melhor caminho. Valha-nos ao menos o bom desejo, se não correspondem as obras ao nosso intento; outros mais mimosos da Natureza farão o que não nos é dado.

Algumas palavras acharão neste Livro que nos Dicionários Portugueses se não encontram; mas as línguas vivas se enriquecem com o progresso da civilização, e das ciências, e uma nova idéia pede um novo termo. Eis as necessárias explicações para aqueles que lêem de boa fé, e se aprazem de colher uma pérola no meio das ondas; para aqueles, porém, que com olhos de prisma tudo decompõem, e como as serpentes sabem converter em veneno até o néctar das flores, tudo é perdido; o que poderemos nós dizer-lhes?.. . Eis mais uma pedra onde afiem suas presas; mais uma taça onde saciem sua febre de escárnio.
Este Livro é uma tentativa, é um ensaio; se ele merecer o público acolhimento, cobraremos ânimo, e continuaremos a publicar outros que já temos feito, e aqueles que fazer poderemos com o tempo. É um novo tributo que pagamos à Pátria, enquanto lhe não oferecemos coisa de maior valia; é o resultado de algumas horas de repouso, em que a imaginação se dilata, e a atenção descansa, fatigada pela seriedade da ciência.

Tu vais, oh Livro, ao meio do turbilhão em que se debate nossa Pátria; onde a trombeta da mediocridade abala todos os ossos, e desperta todas as ambições; onde tudo está gelado, exceto o egoísmo: tu vais, como uma folha no meio da floresta batida pelos ventos do inverno, e talvez tenhas de perder-te antes de ser ouvido, como um grito no meio da tempestade.

Vai; nós te enviamos, cheio de amor pela Pátria, de entusiasmo por tudo o que é grande, e de esperanças em Deus, e no futuro.

Adeus!


Paris, julho de 1836.



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A VOZ DE MINHA ALMA
(Fragmento)


Quando da noite o véu caliginoso
Do mundo me separa,
E da terra os limites encobrindo,
Vagar deixa minha alma no infinito,
Como um subtil vapor no aéreo espaço,
Uma angélica voz misteriosa
Em torno de mim soa,
Como o som de uma frauta harmoniosa,
Que em sagradas abóbadas reboa.
Donde vem esta voz?
— Não é de virgem,
Que ao prazo dado o bem-amado aguarda,
E mavioso canto aos céus envia;
Esta voz tem mais grata melodia!
Donde vem esta voz?
— Não é dos Anjos,
Que leves no ar adejam,
E com hinos alegres se festejam,
Quando uma alma inocente
Deixa do barro a habitação escura,
E na sidérea altura,
Como um astro fulgente
Penetra de Adonai o aposento;
A voz que escuto tem mais triste acento.
Como d'ara turícrema se exalça
Nuvem de grato aroma que a circunda,
E lenta vai subindo
Em faixas ondeantes,
Nos ares espargindo
Partículas fragrantes,
E sobe, e sobe, até no céu perder-se,
Tal de mim esta voz parece erguer-se.
Sim, esta voz do peito meu se exala!
Esta voz é minha alma que se espraia,
É minha alma que geme, e que murmura,
Como um órgão no templo solitário;
Minha alma, que o infinito só procura,
E em suspiros de amor a seu Deus se ala.
Como surdo até hoje
Fui eu a tão angélica harmonia?
Porventura minha alma muda esteve?
Ou foram porventura meus ouvidos
Até hoje rebeldes?
Perdoa-me, oh meu Deus, eu não sabia!
Eram Anjos do céu que me inspiravam,
E outras vozes meus lábios modulavam.



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CONFEDERAÇÃO DOS TAMOIOS (1856)



Como da pira extinta a labareda,
Ainda o rescaldo crepitante fica,
Assim do ardente moço a mente acesa
Na desusada luta que a excitara,
Ainda, alerta e escaldada se revolve!
De um lado e de outro balanceia o corpo,
Como após da tormenta o mar banzeiro;
Alma e corpo repouso achar não podem.
Debalde os olhos cerra; a igreja, as casas,
A vila, tudo ante ele se apresenta.
Das preces a harmonia inda murmura
Como um eco longínquo em seus ouvidos.
Os discursos do tio mutilados,
Malgrado seu, assaltam-lhe a memória.
No espontâneo pensar lançada a mente,
Redobrando de força, qual redobra
A rapidez do corpo gravitante,
Vai discorrendo, e achando em seu arcanos
Novas respostas às razões ouvidas.
Mas a noilte declina, e branda aragem
Começa a refrescar. Do céu os lumes
Perdem a nitidez desfalecendo.
Assim já frouxo o Pensamento do índio,
Entre a vigília e o sono vagueando,
Pouco a pouco se olvida, e dorme, sonha,
Como imóvel na casa entorpecida,
Clausurada a crisálida recobra
Outra vida em silêncio, e desenvolve
Essas ligeiras asas com que um dia
Esvoaçará nos ares perfumados,
Onde enquanto reptil não se elevara;
Assim a alma, no sono concentrada,
Nesse mistério que chamamos sonho,
Preludiando a vista do futuro,
A póstuma visão preliba às vezes!
Faculdade divina, inexplicável
A quem só da matéria as leis conhece.
Ele sonha... Alto moço se lhe antolha
De belo e santo aspecto, parecido
Com uma imagem que vira atada a um tronco,
E de setas o corpo traspassado,
Num altar desse templo, onde estivera,
E que tanto na mente lhe ficara,
— "Vem!" lhe diz ele e ambos vão pelos ares.
Mais rápidos que o raio luminoso
Vibrado pelo sol no veloz giro,
E vão pousar no alcantilado monte,
Que curvado domina a Guanabara.
Cerrado nevoeiro se estendia
Sobre a vasta extensão de espaço em tôrno,
Cobertando o verdor da imensa várzea;
E o topo da montanha sobranceiro
Parecia um penedo no Oceano.
Mas o velário de cinzenta névoa
Pouco a pouco, subindo adelgaçou-se,
E rarefeito enfim, em brancas nuvens.
Foi flutuando pelo azul celeste.
Que grandeza! Que imensa majestade!
Que espantoso prodígio se levanta!
Que quadro sem igual em todo o mundo,
Onde o sublime e o belo em harmonia
O pensamento e a vista atrai, enleva
E faz que o coração extasiado
Se dilate, se expanda, e bata, e impila
O sangue em borbotões pelas artérias!
Os olhos encantados se exorbitam,
Como as vibradas cordas de uma lira,
De almo prazer os nervos estremecem;
E o espírito pairando no infinito,
Do belo nos arcanos engolfado,
Parece alar-se das prisões do corpo.
Niterói! Niterói! como és formosa!
Eu me glorio de dever-te o braço!
Montanhas, várzeas, lagos, mares, ilhas,
Prolífica Natura, céu ridente,
Léguas e léguas de prodígios tantos.
Num todo tão harmônico e sublime,
Onde olhos o verão longe deste Éden?


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GONÇALVES DIAS (1823-1864)


Nascido no Maranhão, era filho de uma união não oficializada entre um comerciante português com uma mestiça cafuza brasileira, tendo em suas origens a trama genética formadora do povo brasileiro: branca, indígena e negra. Estudou em Portugal onde terminou o curso de direito na Universidade de Coimbra, retornando em 1845, após bacharelar-se. Mas antes de retornar, ainda em Coimbra, teve contato com os grupos literários da Gazeta Literária e de O Trovador, interessando-se pelas idéias românticas advogadas em Portugal por Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Antonio Feliciano de Castilho. Em 1849 fundou com Porto Alegre e Joaquim Manuel de Macedo a revista Guanabara, que foi um dos órgãos do movimento romântico, precedida pela revista Niterói. Voltou à Europa em 1862 para tratamento de saúde. Sem resultados, retornou ao Brasil em 1864 num navio que naufragou na costa brasileira; salvaram-se todos, exceto o poeta que foi esquecido agonizando em seu leito e se afogou. O acidente ocorreu no Maranhão.
Abaixo seguem alguns poemas de Gonçalves Dias. Para localizar os poemas "Canto do Guerreiro", "Canto do Piaga" e demais poemas indianistas do livro publicado em 1847 por Gonçalves Dias, favor seguir o link referente aos Primeiros Cantos no final desta postagem.


LEITO DE FOLHAS VERDES


Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.
Eu, sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.
Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.
Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!
A flor que desabrocha ao romper d`alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.
Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!
Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arazóia na cinta me apertaram
Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma;
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!
Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!



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MARABÁ


Eu vivo sozinha, ninguém me procura!
Acaso feitura
Não sou de Tupá!
Se algum dentre os homens de mim não se esconde:
— "Tu és", me responde,
"Tu és Marabá!"


— Meus olhos são garços, são cor das safiras,
— Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;
— Imitam as nuvens de um céu anilado,
— As cores imitam das vagas do mar!



Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:"
Teus olhos são garços",
Responde anojado,
"mas és Marabá:
"Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,
"Uns olhos fulgentes,
"Bem pretos, retintos, não cor d'anajá!"


— É alvo meu rosto da alvura dos lírios,
— Da cor das areias batidas do mar;
— As aves mais brancas, as conchas mais puras
— Não têm mais alvura, não têm mais brilhar.



Se ainda me escuta meus agros delírios:
— "És alva de lírios",
Sorrindo responde,
"mas és Marabá:
"Quero antes um rosto de jambo corado,
"Um rosto crestado
"Do sol do deserto, não flor de cajá."


— Meu colo de leve se encurva engraçado,
— Como hástea pendente do cáctus em flor;
— Mimosa, indolente, resvalo no prado,
— Como um soluçado suspiro de amor!


—"Eu amo a estatura flexível, ligeira,
Qual duma palmeira",
Então me respondem; "tu és Marabá":
Quero antes o colo da ema orgulhosa,
Que pisa vaidosa,
"Que as flóreas campinas governa, onde está."


— Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
— O oiro mais puro não tem seu fulgor;
— As brisas nos bosques de os ver se enamoram
— De os ver tão formosos como um beija-flor!


Mas eles respondem: "Teus longos cabelos,
"São loiros, são belos,
"Mas são anelados; tu és Marabá:
"Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,
"Cabelos compridos,
"Não cor d'oiro fino, nem cor d'anajá,"

————


E as doces palavras que eu tinha cá dentro
A quem nas direi?
O ramo d'acácia na fronte de um homem
Jamais cingirei:


Jamais um guerreiro da minha arazóia
Me desprenderá:
Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,
Que sou Marabá!


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CANÇÃO DO EXÍLIO


Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.


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